Leia isso se você tem problemas para terminar o que começou

Eu vou direto ao ponto dessa confissão.

Eu não era capaz de terminar qualquer coisa.

É desnecessário especificar todos os momentos terríveis. É uma pequena — e triste — história:

Sempre comecei entusiasmada, sempre abandonei antes do fim.

Eu olhei para trás e percebi que isso não era uma exceção. Era uma série longa capaz de rivalizar com as melhores da Netflix.

É frustrante. Eu senti como se o mundo conspirasse contra mim.

Eu começava um projeto, a realidade batia, as coisas ficavam desafiadoras, eu me distraía, acabava entrando no modo imaginação e pronto! Eu me seduzia por outra ideia.

Eu mudava para a nova ideia, o entusiasmo crescia, tudo estava tranquilo, o interesse minguava, eu me distraía, mudava para o modo imaginação de novo e… você adivinhou!... tinha outra ideia.

E o ciclo continuava.

Você sabe a frustração de não conseguir terminar nada? Não por ser ocioso, mas não ter resultados pelos esforços após muitos anos, além de uma série de projetos inacabados, apenas por incapacidade de concluir as coisas?

Cursos abandonados. Aulas abandonadas. Objetivos de carreira abandonados. Objetivos fitness abandonados. Blogs abandonados. Planos de academia abandonados.

Dezenas e dezenas de artigos inacabados que nunca verão a luz do dia, abandonados em algum disco rígido.

Eu sentia a onda emocional viciante que acompanha cada novo projeto, mas nunca era capaz de terminar nada.

Isso descreve você?

É incrível pensar nisso agora, eu estou muito melhor em persistir. Eu ainda não faço isso sempre —  especialmente com mais projetos possíveis do que meu tempo de vida permitiria —  mas é seguro dizer que melhorei muito.

Vamos admitir: você pode esquecer sobre viver uma vida com sentido profundo se continuar começando projetos sem nunca cruzar a linha de chegada.

E para ser franco, pular de um projeto para o outro deixando uma trilha de abandono não é a maneira de viver uma vida interessante.

Você apenas acaba por perceber que você sonhou acordado sua vida inteira e não tem nada para mostrar sobre ela.

Neste artigo eu quero mostrar para você a percepção que mudou minha vida, que me ajudou a me comprometer mais e terminar o que eu começo.

The Construal Level Theory (CLT)

Não se assuste com o nome, inclusive, não existe termo para essa teoria em português. Então, se você estiver com dúvidas sobre esse tema ao final da leitura deste artigo, pode pesquisar por este nome que você encontrará artigos em português bem explicados.

É um conceito bem simples, mas uma ideia muito poderosa.

A Construal Level Theory (CLT) é uma teoria em psicologia social que descreve a relação entre a distância psicológica e até que ponto o pensamento de uma pessoa é abstrato ou concreto.

Sua premissa principal é que percebemos objetos ou eventos distantes como abstratos, intangíveis, inobserváveis e com conceitos amplos, enquanto percebemos objetos próximos / próximos ou eventos com características concretas, específicas e observáveis.

De uma forma mais simples, significa:

Nós vemos o projeto ou meta que fazemos no momento de um “modo perto”, enquanto o projeto/meta que, até então, existe apenas na mente como “modo distante”.

Quando você move uma meta/projeto da sua imaginação (onde ela existe só em pensamento) para o mundo real (quando você começa a trabalhar nisso), você move a percepção de “distante” para “perto”.

Lembre-se de que a percepção do modo distante é ampla, abstrata e intangível, enquanto a percepção do modo próximo é específica, concreta e tangível.

A tirania do Modo Perto vs Modo Distante

O modo perto faz com que a percepção do seu projeto atual seja específica, concreta e tangível.

Você vê todos os detalhes vívidos: agora que você precisa acordar cedo todos os dias para ir a academia ao invés de sonhar sobre ser fitness, a rotina diária já não é tão divertida.

Você tem que realmente sentar e programar ao invés de sonhar em ser o melhor programador.

Você tem que dar os passos difíceis agora e é frustrante porque você não consegue ver o progresso ainda.

Agora no calor da batalha você percebeu que gerenciar um blog “top dos charts” não é tão fácil quanto você pensou.

Agora você percebe que se tornar um programador muito requisitado é bem mais fácil quando a pessoa no YouTube diz que é, do que quando você precisa sentar numa cadeira e realmente programar.

Em compensação, os novos projetos surgindo na sua cabeça não possuem nenhuma desvantagem.

Você pode focar nas maravilhas que sua vida vai se tornar quando você tiver aquele canal famoso no YouTube com milhões de inscritos.

Você pode fantasiar sobre seu tanquinho, sobre ser poliglota, sobre ser um autor que ganha seis dígitos… sem fazer nenhuma parte do trabalho.

Nessa fantasia da sua imaginação, não existe complexidade, nem dificuldades, somente prazer.

O perigo à distância

Quando você começa um novo plano, sua percepção muda do modo distante para o modo perto, você muda da fantasia e começa a ver os pequenos detalhes desagradáveis e de repente percebe que esse plano não é tão glamouroso quanto você pensava.

Mas, o maior erro que fazemos nesse ponto é acreditar que a mudança para um novo projeto é a resposta. Não percebemos que todos os planos que valem a pena dão trabalho, não são glamourosos nem prazerosos enquanto trabalhamos nele.

Essa mudança de percepção enquanto você se aproxima do seu projeto/meta atual, previsto pelo CLT, é o motivo pelo qual você prefere começar um novo projeto “legal” ao invés de seguir com o seu projeto em andamento.

Essa foi uma profunda descoberta que mudou tudo. É uma mudança de perspectiva que teve muito impacto. Pelo menos para mim.

Duas mudanças importantes aconteceram:

Perceba que o Pântano Negro é inevitável

John Saddington descreveu de forma brilhante “a jornada emocional de criar alguma coisa”.

Image for post
A jornada emocional de criar algo bom

Photo by John Saddington

Ela mostra de forma bem precisa como qualquer meta/objetivo/projeto vai da fase essa-é-a-melhor-ideia-de-todas para a fase isso-vai-ser-divertido para a fase isso-é-mais-difícil-do-que-pensei para a fase isso-é-péssimo-eu-não-sei-o-que-fazer.

Nessa fase você entra na parte escura, no pântano-do-desespero e quando sai, você está na fase está-bom-mas-ainda-está-ruim para a fase rápido-vamos-parar-por-hoje-e-dizer-que-aprendemos-algo.

Se você passar por essas fases, chegará nas fases hum-ei!-uau! para finalmente alcançar a fase essa-é-uma-das-coisas-que-mais-me-orgulho, quando você terá atingido seu objetivo.

O problema é que o Pântano do Desespero já reivindicou mais metas e projetos do que gostaríamos de admitir.

Essa é a fase que o autor Seth Godin se refere como “O Mergulho”. O caminho fica mais difícil, penoso e menos divertido e você começa a questionar tudo.

Você questiona se realmente vale a pena o incômodo.

Por outro lado, é incrível a diferença que faz saber e até mesmo esperar esse fosso inevitável.

Um dos maiores erros é falhar em reconhecer que essa jornada inquebrável te leva a algo extraordinário. Enquanto, ao mesmo tempo, pensa que uma nova jornada é a solução.

Entenda que atravessar esse pântano escuro do desespero vai ser difícil. Não deseje que ele suma, construa um plano, uma estratégia para sair dele.

Lembre-se também que a maioria das pessoas desiste nesse ponto e pula para a próxima grande ideia, o que os leva inevitavelmente para o mesmo vale.

É por isso que insistir um pouco mais do que a maioria das pessoas quase automaticamente melhora suas chances de sucesso.

Apaixone-se pela execução

O mundo possui mais pessoas que falam do que pessoas que fazem.

Lembra como todos sonham com ideias quando vão a grandes reuniões, apenas para ir embora e não fazer nada a respeito, para voltar na próxima reunião e sonhar um pouco mais?

Ali está a sua vantagem. Se você aprender a se apaixonar pela execução da tarefa tanto quanto você ama sonhar, você fará parte de um clube muito exclusivo — dos que fazem, dos que realizam.

Perceba que quase todos caem em conflito com as implicações da teoria do nível de construção. O que faz sua habilidade de entender e navegar com sucesso por essa parte uma grande fonte de sucesso e vantagem.

Você abandonará menos projetos que parecem difíceis, você persistirá mais e vai realmente terminar as coisas.

Você já imaginou que fazer isso nem sempre é divertido. É cheio de obstáculos e frustrações.

É por isso que você encontra mais pessoas falando sobre ideias do que executando-as.

Apaixonar-se por fazer as coisas difíceis que a maioria não quer ou não vai fazer, persistir um pouco mais, lutar contra o desejo avassalador de desistir, coloca você imediatamente acima de algumas bilhões de pessoas.

Como o autor Steve Pavlina disse “quanto mais difícil, mais você deve amar.”


Artigo Original: Read This If You Struggle With Finishing Things You Start

Traduzido e adaptado por: Monica Mocellin

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