Um poliglota autodidata: entrevista com Luiz Guilherme

Conheci o Luiz em um Grupo Permanente de Discussão de Direito Tributário organizado pela Comissão da Advocacia Iniciante - CAI da OAB/PR, em Curitiba, no ano de 2019.

Os argumentos e fatos trazidos por ele para o debate sempre foram de certa superioridade intelectual. Enquanto estávamos limitados às notícias do nosso país, o Luiz estava anos-luz à nossa frente, ligado nos principais acontecimentos mundiais.

Conhecimentos internacionais se destacam em meio a multidão, independentemente do ambiente em que você se encontra.

Minha curiosidade (e admiração) em relação a ele aumentou muito depois que ele me passou o seu Blog, no qual ele compartilha suas experiências com o autodidatismo.

Além de aprender línguas estrangeiras, o Luiz se interessa também por programação e pela vida acadêmica.

Por esse motivo, o convidei para realizar essa entrevista. Abaixo você encontrará as respostas dele às perguntas que elaboramos.

Espero que você goste e que possa aprender com a experiência desse cara fora de série.

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Conheça os 5 passos para se tornar autodidata, mudando hábitos e desenvolvendo habilidades complementares. Ser autodidata é mais fácil do que você imagina e nós vamos te provar isso!

Autodidatismo para iniciantes

Quantas e quais línguas você domina ou tem algum grau de conhecimento? E qual foi a ordem de aprendizado delas?

L.G.: Inicialmente é um prazer compartilhar as minhas experiências como autodidata no aprendizado de línguas estrangeiras para os leitores do Apetrecho Digital.

Indo da primeira língua que aprendi até a mais recente, além do português, tenho fluência em inglês e espanhol. Durante a graduação em Direito, em virtude da influência dos estudos jurídicos alemães em diversas legislações brasileiras, dediquei pouco mais de um ano para aprender a ler textos acadêmicos em alemão.

Por fim, motivado pelas minhas pesquisas na área da sociologia e meio ambiente, fui aprender japonês e francês, tendo conhecimentos básicos naquela e intermediários nesta última.

Dessas línguas que você mencionou, qual foi a mais difícil de aprender e por quê?

L.G.: Como aprender línguas estrangeiras é um processo, prefiro separar entre as que demandam mais e menos tempo de aprendizado.

Poderia dizer com facilidade que estudar os caracteres japoneses ou manejar a gramática alemã foram tarefas que exigiram mais tempo.

No entanto, por incrível que pareça, o espanhol foi a língua mais “difícil” para adquirir uma confiança maior na proficiência. Por muito tempo, nutri uma espécie de “síndrome de impostor” com este idioma, pois sempre imaginava que detinha o domínio do “portunhol”.

Admiti que realmente sabia falar espanhol depois de muitas conversações com nativos desta língua e de ter sido aprovado no exame do DELE B2 de primeira e sem cursos preparatórios.

Quais recursos você utiliza para aprender as línguas?

L.G.: Dentro de cada habilidade (leitura, audição, conversação e escrita) busco diferentes materiais.

Para tanto, tenho um hábito diário de ler livros nas línguas que estou estudando, bem como acompanhar o noticiário de outros países. Podcasts são indispensáveis para a audição.

Ao lado disto, a conversação em línguas estrangeiras faz parte da minha rotina, seja no meu trabalho (que algumas vezes envolve mexer com direito internacional privado, especialmente em matéria de migração e tributação internacional), seja em estudos (com leitura de artigos em outras línguas e conversas com pesquisadores de outros países) ou até em conversas com amigos(as) que tenho pelo mundo. Esta última parte vale para a escrita também.

Você se arrepende de meios ou ferramentas que tentou utilizar? Quais erros você cometeu durante o processo de aprendizagem?

L.G.: Ter focado em gramática e ignorado a conversação já no início do processo de aprendizado, enquanto o meu objetivo era pegar fluência na língua como um todo (domínio das quatros habilidades que mencionei na resposta anterior).

Qual é a sua relação com autodidatismo? Você sempre foi autodidata?

L.G.: Não. O autodidatismo surgiu em uma vontade de aprender além daquilo que extraía pelos “meios formais” (aqueles oferecidos pela escola e universidade).

No decorrer da graduação, sentia que era necessário dominar habilidades valiosas no mercado de trabalho. E certas habilidades você somente adquire quando dá o primeiro passo.

O autodidatismo é uma espécie de motor que sempre me motiva a sair da zona de conforto. Afinal, conhecer outras áreas de estudo e trabalho requer o constante aprendizado. Cada desafio cumprido faz você se encorajar a ir atrás de outros.

Além destes pontos, “aprender as coisas por conta” também significa trocar ideias com pessoas de outras áreas (networking). Isto é incrível para alguém como eu que gosta de conversar.

Além das línguas estrangeiras, quais outras habilidades você desenvolveu sem curso ou qualquer forma de ensino regular?

L.G.: São habilidades em constante desenvolvimento. A resposta é extensa. Penso que posso separar em duas categorias: soft skills e hard skills.

Sobre o primeiro grupo, destaco habilidades de networking, como já citei anteriormente, de oratória, pensamento crítico, produtividade/gestão de tempo, pontualidade (o meu lado nipo-alemão das línguas se refletindo em uma habilidade), adaptabilidade e resiliência.

Entre as hard skills, não tenho dúvidas que a programação é a mais notável.

Agora a pergunta que todo mundo quer saber: como aprender inglês sozinho?

L.G.: É primordial encontrar o porquê de estar estudando o inglês. Deseja viajar para outros países? Estudar e/ou trabalhar no exterior?

Digo isto porque em alguns momentos durante a trajetória em aprender inglês é normal encontrar a desmotivação. A melhor forma de corrigir isto é ter uma resposta para a seguinte pergunta: “por que comecei a estudar inglês?”.

Tendo isto em mente, faça uma revisão do que gosta de fazer. Ama ouvir músicas? Assistir documentários? Conversar? A estratégia é aos poucos colocar o inglês no seu dia a dia através de atividades que aprecia fazer (de preferência, em tarefas que abarquem a leitura, audição, conversação e escrita).

Ao invés de assistir seriados em português, por que não colocar o áudio e a legenda em inglês para se familiarizar com a língua? E quando fizer isto, vá anotando algumas frases para entender o contexto das palavras (use elas para montar flashcards).

Para assíduos leitores, o que pensa de pegar um livro na altura das suas habilidades com o inglês? Isto eliminará as barreiras da insegurança. E encontre uma pessoa para conversar!

E nem preciso dizer que o contato com a língua inglesa deve ser diário, certo?

Para você, quais foram os benefícios de aprender a falar inglês?

L.G.: É algo incalculável. Recentemente fui o único brasileiro a palestrar em duas importantes conferências de sociologia na Nova Zelândia e nas Filipinas (no início do ano já havia sido convidado para palestrar em outro congresso no Canadá).

Somado a isto, já fiz (e continuo fazendo) amizades e contatos profissionais em todo o mundo.

Saindo de um cenário pessoal, proponho continuar a resposta nesta perspectiva: você tem em suas mãos um celular com acesso wifi.

Parcela substancial de todas as informações da internet estão em inglês. Existem pessoas da América Latina à Ásia que falam esta língua.

Quando você percebe isto, subitamente nota que há uma infinidade de oportunidades de estudo, profissionais e outras para dar a sua contribuição ao mundo.

Na sua opinião, quais os principais desafios para os autodidatas (especialmente para os que querem aprender línguas)?

L.G.: Foco, constância e autoconfiança.

Sobre o primeiro obstáculo, ele me faz lembrar um livro escrito pelo Cal Newport cujo título (e sobretudo subtítulo) são bastante sugestivos: “Trabalho Focado: Como ter Sucesso em um Mundo Distraído”. O foco é um pilar da constância.

E nas línguas, distribuir o estudo (focado) em vários dias da semana é mais efetivo do que concentrar várias horas de aprendizado em um único dia.

Ao passo disto, observo que muitos (e isto não se resume ao Brasil) afirmam que só é possível se tornar fluente em determinada língua ao morar no país cujas pessoas falam este idioma.

Atualmente existem muitos materiais de línguas estrangeiras, assim como aplicativos de intercâmbio de idiomas (tandem). É perfeitamente possível atingir a fluência morando no seu país de origem, mas é necessário acreditar que você pode fazer isto.

Um conselho para quem está começando a estudar línguas de forma autodidata.

L.G.: Vou plagiar uma frase que assisti em um comercial da Honda: “acredite em seus sonhos. Assim eles acreditarão em você”. Perceba que isto é possível! Este é o primeiro passo!

Elabore planos de curto, médio e longo prazos e dentro disto estabeleça objetivos semanais e uma rotina de estudos.

Tente falar algumas palavras desde a primeira semana de aprendizado e memorize o vocabulário com os flashcards (que é baseado no método de repetição espaçada). Na hora dos estudos use o método pomodoro, caso esteja se distraindo com muita facilidade.

Por fim, se você pudesse voltar no passado, o que diria para o Luiz de 15 anos de idade?

L.G.: Acredite que tudo é possível. Comece a fazer isto trocando o “eu não consigo” pelo “e se eu tentar?”.

Agradeço mais uma vez o convite e fico à disposição para ajudar aqueles que desejam começar a aventura no mundo dos poliglotas autodidatas!

Foto do Luiz: homem branco com óculos e roupa preta em frente à neve.
Luiz Guilherme Natalio de Mello, nosso amigo poliglota autodidata.

E aí, gostou de conhecer a experiência do Luiz? Se a história dele te inspirou, você pode começar seus estudos aqui no nosso site!

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